Thales Castanho de Andrade e eu

Cássio Camilo Almeida de Negri
Vice-Presidente da APL

Revolvendo os escaninhos de minha mente, nos meus profundos “sankaras” desta encarnação, procurei pela primeira história que eu me lembrasse de ter ouvido na vida.

Meus pensamentos foram progredindo até a idade de quatro anos.

Me vi sentado no chão forrado com um pano de algodão branco, parecendo um saco de açúcar alvejado. Pernas cruzadas, e ao meu lado, uma jovem negra de uns vinte anos, também sentada na minha frente, contando-me uma história.

Ela era semi analfabeta, mas conhecia muitas narrativas e lendas, e eu adorava ouvi-la.

Vi essa moça negra, de riso fácil envelhecer, tornar-se uma idosa e falecer aos 82 anos. Foi minha segunda mãe e me acompanhou em toda trajetória de vida.

Mas voltando aos quatro anos, sentado no saco branco alvejado, que ela dizia que era para eu não tomar a friagem do chão de cimento vermelho, ela me contava a história do Agapito. Eu conhecia a história de Thales Castanho de Andrade intitulada El Rei Dom Sapo, como a história do Agapito.

Sempre que meus pais saíam para dar aulas, eu ficava com ela, sentávamos nos panos e eu pedia:

-“Bá (o nome dela era Sebastiana), você me conta a história do Agapito?”

Quando ela terminava, ainda me contava as fábulas de Esopo, Branca de Neve, A raposa e as uvas, e também contava as lendas de Piracicaba como a da Inhala Seca e do Capitão Nhô Lica. Mas a que eu mais gostava mesmo era a história do Agapito.

Meus pais eram professores, e como mamãe tinha sido aluna do professor Thales, tínhamos em casa o livro Saudade e os pequenos livros ilustrados de histórias infantis. Eu observava as figuras, como a do capítulo I e do capítulo XI, onde existe uma casinha, uma mulher dando milho para as galinhas e um mastro de festa de São João no terreiro.

Eu me imaginava brincando feliz nesse pátio poeirento de terra, esperando que a porta da casinha se abrisse e de lá saísse o Agapito para brincar comigo.

Já um pouco maior, minha mãe contava sobre Thales, seu professor, e até quando nos deliciávamos com a Cotubaína, ela dizia que a fábrica da família Andrade, e ficava defronte à Escola Moraes Barros.

Já adulto e avô, tenho saudades da minha netinha Ana Clara pequena (agora adolescente) me pedindo:

“Vovô, conta a história do Agapito para eu dormir?” E sempre, logo após Nhô Fidelis e Nhá Vicência terem encontrado o bebê negrinho abandonado na porta de sua casa, ela já estava dormindo…

Obs: Quem ficou curioso para saber de toda história, leia El Rei Dom Sapo e todas as outras histórias desse escritor pioneiro, e deguste as lições de ecologia em cada narração, na minha opinião, maior que Monteiro Lobato. Só que este, teve muito mais propaganda e divulgação de suas obras.

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